Por Bruno Primor - LE POOL Coffee Roasters

Se você tomou um susto na última vez que comprou seu pacote de café especial. Saiba que não está sozinho. Aquele prazer matinal ficou, em média, 40% mais caro no último ano, e a culpa não é (só) da inflação. O que está acontecendo é uma verdadeira tempestade perfeita, misturando política internacional, economia e, claro, nosso querido grão.

Vamos desvendar essa confusão para você entender por que sua carteira está chorando e o que isso significa para o futuro do café que você bebe.

O epicentro do furacão: Uma tarifa de 50%

Imagine o seguinte: o Brasil é o maior produtor de café do mundo, e os Estados Unidos são os maiores consumidores. Uma relação que parecia perfeita, certo? Nem tanto. Em julho de 2025, o governo de Donald Trump aplicou uma tarifa de 50% sobre a importação do café brasileiro. A notícia, divulgada em primeira mão pela Reuters, caiu como uma bomba no mercado.

"A questão sobre essa tarifa é que não se trata de reciprocidade ou comércio, é punitiva, é política e pessoal. É entre Trump e Lula."

- Steven Walter Thomas, importador de café nos EUA, para a Reuters.

O motivo? Uma briga política que está respingando diretamente na sua xícara. Enquanto o Senado americano tenta derrubar a medida, como noticiado pelo Politico, a tarifa continua de pé, causando um caos que vai muito além da Faria Lima.

O efeito dominó: do produtor à cafeteria

Com uma taxa de 50%, o café brasileiro ficou precisamente inviável para o mercado americano. O resultado? Um efeito dominó que está redesenhando o mapa do café:

  • Torrefações em pânico: Grandes players como a Starbucks já sentiram o baque nas margens de lucro. Pequenas e médias torrefações estão pagando taxas altíssimas para cancelar pedidos de café brasileiro ou, em um ato de desespero, redirecionando cargas para o Canadá para fugir dos malditos impostos.
  • Estoques em nível crítico: Os EUA estão queimando seus estoques de café brasileiro. A previsão, segundo traders internacionais, é que em dezembro os níveis cheguem ao mínimo, forçando uma busca frenética por alternativas.
  • A corrida por alternativas: Com o café brasileiro fora de jogo, a demanda por cafés da Colômbia, México e América Central disparou, aumentando o preço desses grãos em até 10%. É a lei básica da oferta e da procura, explicada de forma brutal no Daily Coffee News.

Enquanto um mestre como James Hoffmann provavelmente já está em seu laboratório testando como essas mudanças afetam a extração ideal, e o consultor Scott Rao analisa o impacto na torra, a realidade é que o mercado está de cabeça para baixo.

E eu com isso? O que muda para o consumidor brasileiro?

Ok, a briga é lá fora, mas como isso nos afeta? Aqui é onde a história fica interessante. Mesmo com as taxas aplicadas ao nosso café, ainda tivemos que enfrentar as questões climáticas, aumento da oferta, além de custos na produção e logística.

Mas vamos pensar por um lado mais otimista. Com 8 milhões de sacas de café de alta qualidade que antes iriam para os EUA procurando um novo lar, podemos estar diante de uma oportunidade de ouro.

O Lado bom da crise (será?)

  • Mais café de qualidade no Brasil: Parte desse café excepcional, que seria exportado, pode acabar abastecendo o mercado interno. Isso significa mais acesso a lotes incríveis que talvez nunca provaríamos.
  • Pressão nos preços internos? Em teoria, com mais oferta, os preços poderiam cair. No entanto, o mercado de commodities é complexo, e a alta do dólar pode anular esse efeito. Publicações como a Coffee Intelligence estão de olho nesse movimento.

O Lado Ruim:

  • Incerteza para o produtor: O produtor brasileiro, pilar de toda a cadeia, enfrenta uma instabilidade gigantesca, sem saber para onde escoar sua produção. Isso pode desestimular o investimento em qualidade a longo prazo, um ponto crucial sempre defendido pela Specialty Coffee Association (SCA).

Como navegar nessa tempestade e continuar bebendo no seu ritmo

Não precisa se desesperar e estocar café como se não houvesse amanhã. A dica de ouro, como sempre, é valorizar o café local e de qualidade.

  • Converse com o seu barista de cabeceira: Pergunte sobre a origem do café, entenda a história por trás do grão. Profissionais como a Gi Coutinho mostram a importância dessa conexão.
  • Apoie torrefações locais: A gente aqui na LE POOL, assim como outras torrefações artesanais, estamos na ponta da cadeia, buscando os melhores grãos direto dos produtores. Ao nos apoiar, você fortalece todo o ecossistema.
  • Explore a diversidade: Talvez este seja o momento perfeito para provar aquele de competição que você estava namorando, como o nosso Paraíso - Edição Nano Lote. É uma forma de experimentar a complexidade que torna o café especial tão único, algo que portais como o Coffee Review celebram.

No fim das contas, essa crise geopolítica do café nos lembra de uma verdade fundamental: cada xícara conta uma história. Uma história de política, economia, mas, acima de tudo, de pessoas apaixonadas em toda a cadeia produtiva.

E enquanto o mundo briga, a gente continua por aqui, torrando o melhor café possível. Porque, no final, um bom café tem o poder de tornar qualquer dia um pouco menos caótico.